Deixei de ser casulo
Nunca soube ser metade de ninguém, estranhamente eu já me
reconhecia, há muito tempo, única, inteira e intensa.
Tentei me encaixar...
Nossa! Só de lembrar eu canso...
Me modelei tantas vezes, numa busca desenfreada de ser
aceita como ½ do outro.
Em certos momentos eu até pensei que poderia ser uma boa
atriz...
Entre tantos orgasmos de vida que fingi, apaguei e tolhi meu
real desejo, tão voraz, tão pulsante, amargamente saboroso e apavorante.
Como tive vontade de mim, como almejei dar-me um abraço
amigo e acolhedor...
Olhava para aquela versão fajuta, pálida e externa de um eu
inventado e dizia-lhe: “sai daí, isso te machuca, essa não é você...”
Mas era mortalmente impossível sorrir para quem eu queria
ser, era doloroso aceitar que todo aquele colorido queria nascer, implorava
para sair de um ínfimo casulo e passar a ser borboleta.
Hoje, mais leve e decidida por mim, apaixonada pela minha
versão original, consigo enxergar que o que parecia tão pesado, pode ser pluma,
o que parecia tão confuso, pode ser simples.
Bastava explorar o interior, pra deixar de ser casulo.
E então, escolher por mim.
Por Vanessa Morais